01/06/2017

A trumpada climática maior

 
Para além da ignorância acintosa sobre um dos principais problemas da humanidade e do chorrilho de mentiras e sandices do discurso Donald Trump de retirada do Acordo de Paris que já estão sendo fartamente identificadas e dissecadas, cabe analisar alguns aspectos menos óbvios da decisão.

 Em primeiro lugar sua vigência e aplicabilidade. Uma saída do Acordo de Paris por parte de um país se dá mediante um processo de 4 (quatro anos). Ou seja, juridicamente,  os EUA sairão apenas em 2020, ano da próxima eleição presidencial. Havia um caminho mais curto --um  ano--  que seria sair da Convenção do Clima, assinada na Rio 92. 

 Na prática, nesse período, até 2020,  os EUA ficarão (qual almas penadas) na UNFCCC só que não estarão se preparando para aplicar sua NDC (que formalmente entraria em aplicação em 2020 também). As NDC são voluntárias e não foram, ao contrário do que Trump disse no discurso, “mal negociadas” com os outros países. Não foram negociadas.

 A posição defendida na Casa Branca por Ivanka Trump e Jared Kushner e por Rex Tillerson, secretário de estado, era justamente ficar no Acordo mas descumprir a NDC, que na é o que objetivamente irá acontecer. Ou seja, prevalece, na prática,  essa posição mas com a roupagem do discurso da ultra-direita dos cavaleiros das trevas Steve Bannon e Scott Pruitt.

 Porque então não ter logo saído da Convenção? Aparentemente foi o receio pela Convenção ter sido o único acordo climático firmado pelos EUA que fora aprovado no Senado. Para repudia-lo Trump teria de passar, novamente , pelo Senado onde a vantagem dos republicanos é de apenas 4 votos (contando com o voto Minerva do vice-presidente Mike Pence). Foi considerado arriscado.

 Outra curiosidade: ao longo de todo seu  besteirol Trump e  Pruitt em nenhum momento exprimiram suas convicções negacionistas. Não disseram que não existia aquecimento global ou que ele não era resultante de “ação do homem” como haviam alardeado durante a campanha. 

 Isso os deixa numa posição curiosa. Seria mais coerente sair do Acordo de Paris e da Convenção por desacreditar no que seria uma quimera. No seu discurso, no entanto, ele pareceu implicitamente admitir a existência do fenômeno mas colocou a sua frente os supostos mais elevados interesses comerciais e sociais  dos EUA sob a ótica  da “América primeiro”.

 Qualquer observador sério sabe que, pelo contrário, a decisão irá prejudicar os interesses econômicos dos EUA e contribuir para o maior sofrimento dos mais pobres, as maiores vítimas das mudanças climáticas. Mas  não importa pois não é disso que se trata. É mister simplesmente alimentar a sua narrativa nacionalista com novos “fatos alternativos”.  Manter viva sua relação com a base. 


 Hipnose política, apenas.

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