04/12/2012

Netanyahu: escolhendo o apartheid


Bibi Netanyahu está prestes a completar sua obra: a inviabilização da solução de dois estados e a consolidação do “Grande Israel”: um território do Mediterrâneo ao rio Jordão dominado por Israel com alguns bantustões ao redor de centros urbanos da Cisjordânia perfazendo menos de 40% do território daquilo que juntamente com Gaza compõem 22% da Palestina histórica que, em 1948,  a Assembléia Gera da ONU, presidida por Oswaldo Aranha, decidiu dividir entre um estado de maioria judaica e um estado árabe-palestino. Na época palestinos e árabes não aceitaram a partilha e atacaram Israel. A Jordânia e o Egito ocuparam a maior parte do território destinado ao estado palestino. Em 1967 Israel ocupou esse território. Agora pouco a pouco vai anexando a Cisjordânia e Jerusalém Leste base indispensável para um estado palestino minimamente viável.

 Ao anunciar a intensificação da colonização numa área estratégica que suprimiria qualquer contiguidade territorial entre a Cisjordânia e Jerusalém Leste, em represália ao voto da ONU que reconheceu a Palestina como estado-observador, Netanyahu revelou sua total afinidade com os colonos e seu processo de ocupação cada vez mais extensa  e intensa da parcela de território que serviria eventualmente para um futuro estado palestino. É com essa postura política arrogante e desafiadora que Bibi prepara-se para enfrentar as eleições de janeiro de 2013. Não só formou uma coligação com a extrema-direita representada por Avigdor Lieberman, como a lista de candidatos de seu próprio partido, o Likud, expurgou os últimos expoentes da sua direita liberal, como Beny Beguin ou Dan Meridor. A nova lista do Likud será tão ou mais direitista e pró-assentamentos que a de Lieberman.

 Esse processo consagra a transformação da democracia israelense em um regime de apartheid religioso. No Grande Israel de Netanyahu quase metade dos habitantes, os palestinos de Jerusalém e da Cisjordânia, estarão privados de quaisquer direitos políticos. Os colonos controlarão as melhores terras, a água, as rodovias e estradas deixando enclaves isolados cercados de postos de controle para os palestinos. A luta palestina por um estado nacional, ao lado de Israel,  se converterá –como desejava Edward Said e outros expoentes da esquerda palestina--  numa luta por direitos civis e políticos contra um regime de apartheid.

 Pessoalmente sempre preferi um estado binacional laico. Não sou sionista  (o que não é mesmo que ser antisionista)  e, de fato,  não faço questão alguma de um “estado judeu” em Israel/Palestina. Quero um estado onde os judeus vivam em absoluta segurança, democracia e livres de quaisquer perseguições. Defendi todos esses anos a solução de dois estados porque penso ser difícil, pelo trauma de tantas guerras e ódios, o advento, a curto ou médio prazo,  de um estado democrático binacional.  Aí estão o Hamas e a direita sionista para mostrar o quão difícil é essa convivência. Penso que um estado binacional poderia resultar  de uma paz estável, a longo prazo, entre dois estados e uma integração gradual integração econômica de tipo europeu.

 Mas a política expansionista/anexionista de Bibi Netanyahu deixará a luta contra o apartheid por liberdades democráticas e direitos civis como o único e o último jogo a ser jogado.  A médio prazo é o fim ou do sionismo ou o da democracia israelense. Ou teremos um estado judeu fascista e de apartheid, sem democracia,  ou um estado democrático que não será mais judeu. Terá uma maioria demográfica árabe-palestina. Claro que Bibi e os seus trabalham pela primeira opção. A pergunta que não quer calar é durante quanto tempo essa política que leva diretamente ao apartheid continuará a ter o apoio quase irrestrito de Barack Obama e dos herdeiros da luta pelos direitos civis de Martin Luther King?  

***

Acabo de assistir a entrevista do ex-primeiro ministro Ehud Olmert ao Charlie Rose da Bloomberg --excelente jornalista-- e havia assistido sua entrevista mais curta com Christiane Amanpour da CNN. 

 Olmert esteve a um passo de chegar a um acordo de paz com Mahmoud Abbas em torno do que todos sabemos seria a solução possível de dois estados baseados nas fronteiras de 1967 com trocas territoriais mutuamente acordadas, um acordo sobre Jerusalém e uma solução realista da questão dos refugiados de 1948. 

 Ele foi obrigado a renunciar por um escândalo de corrupção não muito convincente com forte cheiro de caça às bruxas. 

 Olmert é atualmente o mais bem preparado dos políticos israelenses de primeira linha e o mais sinceramente comprometido com uma paz justa com a Autoridade Palestina de Abbas e Salam Fayad. Pena que esteja fora do jogo por essa Lei de Murphy que é o drama israelo-palestino.

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