Bibi
Netanyahu está prestes a completar sua obra: a inviabilização da solução de
dois estados e a consolidação do “Grande Israel”: um território do Mediterrâneo
ao rio Jordão dominado por Israel com alguns bantustões ao redor de centros
urbanos da Cisjordânia perfazendo menos de 40% do território daquilo que
juntamente com Gaza compõem 22% da Palestina histórica que, em 1948, a Assembléia Gera da ONU, presidida por
Oswaldo Aranha, decidiu dividir entre um estado de maioria judaica e um estado
árabe-palestino. Na época palestinos e árabes não aceitaram a partilha e
atacaram Israel. A Jordânia e o Egito ocuparam a maior parte do território
destinado ao estado palestino. Em 1967 Israel ocupou esse território. Agora
pouco a pouco vai anexando a Cisjordânia e Jerusalém Leste base indispensável
para um estado palestino minimamente viável.
Ao anunciar a intensificação da colonização
numa área estratégica que suprimiria qualquer contiguidade territorial entre a
Cisjordânia e Jerusalém Leste, em represália ao voto da ONU que reconheceu a
Palestina como estado-observador, Netanyahu revelou sua total afinidade com os
colonos e seu processo de ocupação cada vez mais extensa e intensa da parcela de território que
serviria eventualmente para um futuro estado palestino. É com essa postura
política arrogante e desafiadora que Bibi prepara-se para enfrentar as eleições
de janeiro de 2013. Não só formou uma coligação com a extrema-direita
representada por Avigdor Lieberman, como a lista de candidatos de seu próprio
partido, o Likud, expurgou os últimos expoentes da sua direita liberal, como
Beny Beguin ou Dan Meridor. A nova lista do Likud será tão ou mais direitista e
pró-assentamentos que a de Lieberman.
Esse processo consagra a transformação da
democracia israelense em um regime de apartheid
religioso. No Grande Israel de Netanyahu quase metade dos habitantes, os
palestinos de Jerusalém e da Cisjordânia, estarão privados de quaisquer
direitos políticos. Os colonos controlarão as melhores terras, a água, as
rodovias e estradas deixando enclaves isolados cercados de postos de controle
para os palestinos. A luta palestina por um estado nacional, ao lado de Israel,
se converterá –como desejava Edward Said
e outros expoentes da esquerda palestina--
numa luta por direitos civis e políticos contra um regime de apartheid.
Pessoalmente sempre preferi um estado
binacional laico. Não sou sionista (o
que não é mesmo que ser antisionista) e,
de fato, não faço questão alguma de um
“estado judeu” em Israel/Palestina. Quero um estado onde os judeus vivam em
absoluta segurança, democracia e livres de quaisquer perseguições. Defendi
todos esses anos a solução de dois estados porque penso ser difícil, pelo trauma de tantas guerras e ódios, o advento, a curto ou médio prazo, de um estado democrático binacional. Aí estão o Hamas e a direita sionista para
mostrar o quão difícil é essa convivência. Penso que um estado binacional
poderia resultar de uma paz estável, a longo prazo, entre dois estados e uma
integração gradual integração econômica de tipo europeu.
Mas a política expansionista/anexionista de
Bibi Netanyahu deixará a luta contra o apartheid
por liberdades democráticas e direitos civis como o único e o último jogo a ser jogado. A médio prazo é o fim ou do sionismo ou o da democracia
israelense. Ou teremos um estado judeu fascista e de apartheid, sem democracia,
ou um estado democrático que não será mais judeu. Terá uma maioria
demográfica árabe-palestina. Claro que Bibi e os seus trabalham pela primeira
opção. A pergunta que não quer calar é durante quanto tempo essa política que
leva diretamente ao apartheid continuará a ter o
apoio quase irrestrito de Barack Obama e dos herdeiros da luta pelos direitos
civis de Martin Luther King?
***
Acabo de assistir a entrevista do ex-primeiro ministro Ehud Olmert ao Charlie Rose da Bloomberg --excelente jornalista-- e havia assistido sua entrevista mais curta com Christiane Amanpour da CNN.
Olmert esteve a um passo de chegar a um acordo de paz com Mahmoud Abbas em torno do que todos sabemos seria a solução possível de dois estados baseados nas fronteiras de 1967 com trocas territoriais mutuamente acordadas, um acordo sobre Jerusalém e uma solução realista da questão dos refugiados de 1948.
Ele foi obrigado a renunciar por um escândalo de corrupção não muito convincente com forte cheiro de caça às bruxas.
Olmert é atualmente o mais bem preparado dos políticos israelenses de primeira linha e o mais sinceramente comprometido com uma paz justa com a Autoridade Palestina de Abbas e Salam Fayad. Pena que esteja fora do jogo por essa Lei de Murphy que é o drama israelo-palestino.
***
Acabo de assistir a entrevista do ex-primeiro ministro Ehud Olmert ao Charlie Rose da Bloomberg --excelente jornalista-- e havia assistido sua entrevista mais curta com Christiane Amanpour da CNN.
Olmert esteve a um passo de chegar a um acordo de paz com Mahmoud Abbas em torno do que todos sabemos seria a solução possível de dois estados baseados nas fronteiras de 1967 com trocas territoriais mutuamente acordadas, um acordo sobre Jerusalém e uma solução realista da questão dos refugiados de 1948.
Ele foi obrigado a renunciar por um escândalo de corrupção não muito convincente com forte cheiro de caça às bruxas.
Olmert é atualmente o mais bem preparado dos políticos israelenses de primeira linha e o mais sinceramente comprometido com uma paz justa com a Autoridade Palestina de Abbas e Salam Fayad. Pena que esteja fora do jogo por essa Lei de Murphy que é o drama israelo-palestino.
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