O debate final Obama x Romney terminou com uma clara vantagem em aparência e substância para o presidente. No conteúdo Obama dominou folgadamente todas as escaramuças. Nas aparências, com a TV muda, víamos um presidente à vontade, focado, seguro e o republicano suando nixonianamente com uma sucessão de sorrisos amarelos e um olhar perplexo. Parecia um vendedor de carros velhos, desanimado, tentando de várias maneiras vender seus calhambeques com frases decoradas sem sucesso.
Para quem acompanha a política norte-americana e a atual campanha desde as primárias era impressionante a metamorfose de Mitt: nas primárias um discurso de extrema-direita à la Tea Party de arrepiar os cabelos de qualquer eleitor conservador moderado. Agora uma guinada ao centro desdizendo tudo que disse antes e tentando aparecer como um arauto da moderação e do diálogo com os democratas. Era evidente que teria que ganhar as primárias à direita e infletir ao centro para a eleição geral mas conseguiu fazer ambos movimentos de forma tão ostensivamente oportunista que chama-lo de cara-de-pau vira um eufemismo.
Em termos de política externa Mitt faria tudo que Obama fez apenas tentaria indiciar Ahmadinedjad por genocídio --ser boquirroto e negar o holocausto não é a mesma coisa que ser genocida, convenhamos-- aumentaria os gastos militares e seria ainda mais pró-Israel do que o já excessivamente Obama. Mitt não cometeu nenhuma gafe fatal mas revelou-se aquilo que os americanos chamam de flip-floper, alguém que muda de posição toda hora desavergonhadamente.
A superioridade evidente de um Obama radicalmente distinto do abúlico no primeiro debate, em Denver, não lhe garante a vitória. A hipótese de Romney é que haveria um bloco de eleitores decepcionados com a economia e dispostos a qualquer mudança mas que tem um pé atrás com ele por considera-lo um plutocrata com políticas socialmente regressivas e tendente em envolver os EUA numa nova guerra. Sua aposta foi tentar apaziguar esse tipo de eleitor e beneficiar-se de um desconforto que uma parte do eleitorado ainda cultiva, subrepticiamente, relação ao primeiro presidente negro da história dos EUA.
Como já escrevi aqui, não entendo direito os americanos. Não concebo como Romney possa sequer ser considerado um candidato minimamente sério, quanto mais que esteja pau a pau com Obama nas pesquisas de voto popular e com alguma chance de reverter a superioridade que Obama parece ter nesse momento no Colégio Eleitoral. Curiosamente o jornalismo sério, tipo CNN e BBC, vem fazendo piruetas para escapar do patrulhamento dos republicanos --que tem a Fox News totalmente desinibida-- e parecerem “equilibrados”. Essa tendência a um imparcialidade forçada os leva a não ver o quanto o rei está nu. Ignoraram ontem um Mitt Romney ostensivamente pelado. Para eles o debate foi “equilibrado” e a vitória de Obama, quando muito, “por pontos”.
Na verdade Mitt apanhou mais que os dois últimos adversários de Anderson Silva no MMA. Mas como os EUA são um país meio doido e vivem fase pateticamente bizarra, em 6 de novembro tudo pode acontecer inclusive o reverso do óbvio. Mas vamos torcer para que a realidade exista.
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