22/09/2012

O comício de Freixo e as vaias a Marina



 Numa época onde os comícios à antiga já não são mais usuais, Marcelo Freixo deu uma bela demonstração de capacidade de mobilização, atraindo alguns milhares de jovens. O “núcleo duro” certamente foram aqueles segmentos que já se mobilizam para ir as ruas e lotar galerias com alguma frequência, como os sindicatos de professores e de bancários que o PSOL controla. Aparentemente o contrato de Eduardo Paes com a cacique Cobra Coral inclui fazer chover sobre seus adversários pois sobre o comício na Lapa despencou um considerável toró.

 O tom geral foi aquele “combativo”: o nosso herói cercado de vilões e vilanias,  lutando contra o dragão da maldade municipal e encarnando os “movimentos sociais”. Yuka, o candidato a vice definiu, segundo a reportagem de O Globo: “Desde a Marcha da Maconha até os sem-terra, a nossa candidatura representa tudo isso.” E descreveu seu sonho para o segundo turno: “O Eduardinho vai ter que sentar do lado do Marcelo Freixo. O dinheiro do Eike Batista não vai adiantar p.. nenhuma. O tempo dos dois no segundo turno vai ser igual.” 

 Embora eleitoralmente Freixo tenha logrado ocupar parte do eleitorado de Gabeira e de Marina, de 2008 e 2010,  --quando os verdes ainda não haviam se auto-implodido--  seu tom dominante continua sendo de extrema-esquerda. Já no caso da maconha, chegaram, agora, à primeira campanha de Gabeira, para governador,  em 1986. Na época a extrema-esquerda e a esquerda tradicional em geral tinham horror desse tema “pequeno burguês”. Nos anos 80, nós o relacionávamos ao direito de cidadania de “dispor do próprio corpo”. Pois 26 anos depois, eles chegaram lá! Com direito a Caetano Veloso no palanque. 

 Não me parece que isso seja tema das eleições municipais. No seu foro apropriado, o Congresso Nacional, venho defendendo uma proposta mais bem mais radical. Não abordo mais, como nos anos 80, a questão da maconha sob a ótica dos direitos civis dos consumidores. Defendo a legalização das drogas, em geral --excetuando-se o crack, alvo de uma estratégia específica--  como forma de por fim ao morticínio e destruir a grande base logística do tráfico armado. Abordei isso com todas as letras no meu discurso, no dia 11 de setembro. Eis aqui o  vídeo no Youtube e a transcrição do mesmo.

 A Marcha da Maconha é politicamente contraproducente pois parece apresentar um movimento de pessoas que estão lutando em causa própria, pelo direito de fuma-la  sem serem incomodados. Um discurso oba-oba, com direito a fumar um baseado no meio da marcha, permite à  direita reacionária, religiosa ou não --os Garotinhos e os Bolsonaros da vida--  caracterizar a causa como “de maconheiros” e até utiliza-lo como um caricato espantalho cultural para sua própria mobilização em defesa dos “valores da família”. A correlação de forças na sociedade brasileira em torno desse tema vem se mantendo  ao longo das últimas décadas bastante adversa sem muito progresso na opinião pública. Apesar de avanços no público especializado e no judiciário, mais ou menos 85% da população brasileira vem sendo contra. Para modificar esse quadro tão difícil  --sem avançar na opinião pública não avançaremos de fato--  o discurso mais eficaz é o que tento fazer, acreditem. Já o fiz até, com todas as letras e um certo sucesso,  na Escola Superior de Guerra.  

 Mas voltando ao comício. Yuka esculachou o Eike Batista, doador da campanha de Paes. Também venho criticando o personagem. Preocupam-me seus investimentos em novas usinas a carvão, fortes emissoras de CO2 e totalmente desnecessárias ao nosso modelo de geração elétrica. Preocupa-me sua usina siderúrgica no norte fluminense, pela mesma razão. Uma CSA em Campos, imaginem... Mas se me candidatasse a prefeito não o dispensaria, a priori, enquanto parceiro eventual para ajudar a despoluir a Lagoa Rodrigo de Freitas ou recuperar a Glória. 

 O que Feixo ainda não entendeu é que o foco do prefeito deve ser o de sempre melhorar a Cidade e mobilizar quem quer que seja para tanto. Nesse sentido o discurso anti-empresarial da extrema esquerda não condiz com uma proposta séria de conquista da prefeitura. Mas para marcar posição e ensaiar vôos futuros na política, nada como um  belo de um vilão e, nesse sentido,  o Eike cai como uma luva.

 Outro alvo de vaias no comício foi nada menos que...Marina Silva!

 Sempre segundo O Globo,a deputada Janira Rocha, agradeceu aos eleitores que votaram na última eleição presidencial em Marina Silva, em 2010. Entretanto, quando o nome da ex-senadora foi citado pela parlamentar, o público vaiou.” 

 Esse fato coloca o dedo noutra contradição da campanha de Freixo. Há meses tentam o apoio de Marina. Do outro lado, evidentemente, tento trazê-la para a campanha da Aspásia, quem, a todo momento, esteve com ela. Em 2010, quando o PSOL a tratava de “Polyana eco-capitalista” e, depois, quando a direção nacional do PV, ignobilmente, fez o que fez com ela. Mas a política é o que é.

  Esta semana os esforços para trazê-la para Freixo se intensificaram por parte do grupo ligado a Heloisa Helena que acaba da anunciar que vai deixar o PSOL. A ideia, aparentemente, é que esse apoio se dê em troca do compromisso secreto dele se juntar ao “racha” de Heloisa para a formação de um novo partido com Marina, depois das eleições, com vistas a 2014. 

 Sinceramente, não sei como vai acabar esse trelelê num momento em que a candidatura da Aspásia aparece com chances de crescer e ir ao terceiro lugar. Mas vejo aí algumas complicações. A abordagem a Marina vai naquela linha de que seria “fundamental para garantir o segundo turno”. Ora, qualquer um minimamente experiente que leia pesquisas percebe que a probabilidade disso acontecer se relaciona com algum acontecimento cataclísmico altamente improvável. Há uma sólida tendência a um “segundo turno, já no primeiro” como já analisei em dois blogs anteriores. 

 Por outro lado imaginem um acordo em que o candidato recebe um apoio eleitoral relevante mas cujo preço é o compromisso de deixar o partido pelo qual está concorrendo neste momento? Complicado, não?

 No futuro, Freixo vai ter que optar entre a extrema-esquerda e essa nebulosa eco-ético-sócio-evangélica que gravita em torno de Marina na forma de movimento e cuja transformação em partido parece um desafio próximo à quadratura do círculo. No presente, sua campanha, nesse comício, prosseguiu naquele rumo radical, de estreitamento,  que sua entrevista ao Globo, que analisei aqui, em profundidade, já apontava. Não é  caminho que leve a um segundo turno ainda que as chances objetivas para tanto fossem maiores do que são. 

 Só teremos segundo turno se um ou dois dos outros candidatos, além de Freixo, crescerem bastante. Otávio e Rodrigo, com um bom tempo de TV, não conseguiram, ambos caíram e estão embolados com Aspásia na casa dos 3%. Aspásia é a única que tem potencial de crescer com capacidade de subtrair votos de Paes, o que seria indispensável para se pudesse imaginar um segundo turno. 

 Mas ela permanece condicionada pelo lastro plúmbeo de um partido em profunda crise sem os apoios estratégicos que poderiam ajuda-la a galgar de patamar. A começar pelo da própria Marina. Política, meus amigos, é algo muito, muito, complicado...

4 comentários:

  1. Vaias a Marina Silva?
    Eu estive no Comício. Em nenhum momento vaiamos a Marina. Acho que essas informações são falsas. Só acho.

    Mais uma mentira na tentativa de prejudicar a belíssima campanha do Marcelo Freixo. Muitos, mas MUITOS mesmo, estão com muita inveja do que a juventude está fazendo. Algo jamais visto na história das eleições à prefeitura do Rio.

    A mudança está apenas começando!

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  2. Ottati, rides again! Bem vindo ao segundo blog. Aqui também sem censura mas com direito a tréplica. Tá virando um leitor assíduo, ou é missão do partido?

    As vaias para Marina Silva foram amplamente noticiadas pela imprensa, sem desmentido algum. Algumas pessoas que estiverem no comício me relataram também. Ficaram chocadas com o grau de sectarismo e a atitude raivosa do segmento do PSOL que vaiou --evidentemente que não foi todo mundo-- e ficaram indecisas quanto ao voto. Estou tentanto trazer para a Aspásia para que não migrem para o Paes... O segundo turno de depende dos votos de todos outros, não apena do segundo colocado.Sabia?

    Quanto ao "jamais visto" voce parece o Lula com aquele negócio de "nunca antes da história desse país". Se voce continuar me acompanhando assiduamente (missão?) dê uma visitada no meu Youtube e assita as campanhas do Gabeira de 86 e de 2008 e da Marina em 2010.

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  3. Caro Sirkis, não preciso nem te responder quanto a sua pergunta se é missão do partido. Não sou filiado ao PSOL e a nenhum outro partido. Aliás, fiz campanha para o Marcelo Freixo sem ganhar um real, apenas por ideal, o que é difícil de ver isso hoje em dia, na maioria dos partidos, né?

    Quanto as vaias, com certeza a imprensa deve ter postado. Assim como muitos meios postaram que foram apenas 5 mil, sendo que a realidade foram 15. Assim como fizeram questão de colocar na capa, nesta última semana, que o Paes tinha 70% dos votos. A imprensa, em sua maioria, é manipuladora, formadora de opinião. Não acho que o senhor precise se basear em imprensa, para saber se vaiaram ou não a Marina Silva. Eu afirmo com toda convicção: NÃO VAIARAM. Muitos conhecidos meus foram, e ficaram espalhados pelo comício. Não tivemos vaias à ninguém, além de Sérgio Cabral e Eduardo Paes, e também aqueles que, antes do Comício, ficaram divulgando que não teria mais, por causa da chuva.

    Claro que eu sei que o segundo turno depende dos outros candidatos. Mas acho errado o senhor fazer dois textos querendo tirar votos do segundo colocado, ajudando a candidata do seu partido, Aspásia. E ainda fez questão no outro texto de alegar que o atual cenário do Rio de Janeiro não está tão ruim, e que sua coleguinha de partido foi a única que admitiu isso. Isso é querer segundo turno, caro deputado?

    Mas quanto ao outro texto, respondo por lá!

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