A internet e a “blogosfera” repercutem o
episódio do candidato a vereador do PSOL, no Rio, e ex-deputado, do PT do Pará,
Babá, que aparece em cenas de 2009
queimando a bandeira de Israel. Isso vem sendo usado contra o candidato Marcelo
Freixo que se demarcou criticamente do Babá observando corretamente que podemos
ser contra o governo de Israel sem ser contra o país. Manifestou, no entanto,
uma certa condescendência em relação ao candidato de seu partido a quem qualificou,
segundo o Globo-on-line de “combativo”.
Não me parece justo o amálgama que
fazem entre o que fez Babá e o Freixo, como candidato a prefeito. Não me
parece legítimo ataca-lo pessoalmente por isso. Seu partido, no entanto, merece críticas em reação ao tema. Plínio de Arruda Sampaio, em 2010, num dos debates, foi
extremamente infeliz ao defender o direito do Irã construir a bomba atômica e
afirmar que os EUA eram piores que o Irã. Critiquei-o por isso, na época. Mas era uma campanha presidencial na qual a política
externa é um tema de campanha válido ainda que meio esquecido. Na atual campanha para prefeito do Rio não creio que a situação do Oriente Médio seja
relevante, me perdoem os candidatos a
vereador a cata do voto comunitário
judaico ou de origem árabe.
Devemos retirar o tema da pauta pois acaba, no final da linha, estimulando o anti-semitismo. Aqui
estou usando a expressão no seu sentido lato. Refere-se ao preconceito contra
os “semitas” que atinge tanto judeus como árabes, embora na linguagem mais
corrente se use mais a expressão como um sinônimo do anti-judaísmo. Esse tipo
de discussão quando vira tema de campanha eleitoral acaba resultando em em hostilidade e preconceito contra ambos.
Dito isso não posso deixar de comentar a atitude
de Babá, no contexto em que se deu, há três anos atrás. O fato de ter
acontecido durante a operação contra a Faixa de Gaza e da bandeira norte-americana ter sido
queimada também na ocasião absolutamente não justifica o ato. Embora eu próprio pudesse tê-lo feito feito, com a norte-americana, nos idos dos anos 60 e 70, hoje sou totalmente contrário a queimar a bandeiras de qualquer
país quer dos EUA ou Israel, quer a do
Irã ou da Síria. Bandeiras representam
nações e povos. Na tradição da esquerda não odiamos nações ou povos. Podemos
criticar e até, eventualmente, odiar governos ou regimes. Queimar a
bandeira de Israel é mais perigoso e complexo porque, ao contrário de outros
países cuja existência, em si, não é contestada --ninguém diz, por
exemplo, que os EUA, a França, a Alemanha ou a China
não deveriam “existir”-- Israel é objeto
de ameaças existenciais por parte do governo do Irã e de organizações como o
Hizbollah e o Hamas. Isso na psique judaica se articula com o holocausto nazista cuja
ocorrência é negada ou minimizada pelos mesmos atores. A noção de que Israel deve ser “varrido
do mapa” brandido pelo regime iraniano surge como uma ameaça mortal que permite ao governo de Israel
justificar politicamente as ações mais absurdas como, por exemplo, o cogitado
ataque preventivo a instalações nucleares iranianas.
Os governos de Israel --e muito
particularmente o atual, de direita e extrema direita-- utilizam, manipulam e exacerbam essas ameaças
para seus próprios propósitos políticos e ideológicos. Netanyahu, Lieberman e
seus pares se beneficiam politica e
eleitoralmente dos discursos de Ahmadinedjad
ou Hassan Nazrallah para
favorecer suas políticas expansionistas e belicistas (e vice versa). Isso está inviabilizando a solução de dois estados, um
judeu e um palestino e a negociação em torno da “iniciativa árabe”, de 2002, que representava um caminho para a paz promissor a ser
explorado com certos ajustes. Já o regime dos aiatolás iranianos, o Hezbollah e
o Hamas surfam politicamente na onda opressiva criada pelas políticas da
direita e extrema-direita israelense. Quem perde mais nesse contexto? A
minguante esquerda israelense e os setores modernos laicos e democráticos das
sociedades árabes e muçulmanas em geral como os jovens que
desencadearam a revolução tunisina e egípcia e o movimento “verde” iraniano.
Por tudo isso, queimar bandeiras é
contraproducente. Uma esquerda de verdade, internacionalista e democrática,
busca promover o diálogo incessantemente, entre israelenses e palestinos. Isso
sem colocar no mesmo plano suas responsabilidades respectivas, pois há, neste
momento, uma total assimetria entre ocupantes e ocupados. O nó górdio é a
ocupação e a expansão dos assentamentos na Cisjordânia palestina, fique claro. Por
outro lado qualquer ameaça de destruição de Israel, como nação, nas suas
fronteiras internacionalmente reconhecidas, é odiosa e inaceitável. Nem o mais
progressista dos israelenses, o mais crítico do seu governo, admite que a bandeira
de seu país seja queimada. Por isso, me perdoe, companheiro Babá, mas esse tipo de manifestação, própria da ultra-esquerda, constitui politica e culturalmente uma babaquice.
Ola Deputado Sirkis,
ResponderExcluirMeu nome é Cezar Mizrahi, sou medico, brasileiro, carioca, nascido, criado e vivido no RJ ate Marco de 2012, quando me mudei para Israel para completar minha especializacao em Neurocirurgia. Fiz minha apresentacao tao longa com o intuito de mostrar que, sim, posso estar sendo parcial, mas tambem, tenho o direito e se nao, o dever de me posicionar.
Como Vossa excelencia pode imaginar, sou de origem judaica e tenho tambem minha posicao "combativa".
Concordo com alguns pontos de sua explanacao mas tambem discordo de tantos outros, mas nao vejo relevancia aqui enumera-los. Gostaria, sim, de me posicionar apenas com relacao ao ponto: "Devemos retirar o tema da pauta".
Discordo veementemente.
Por mais que um vereador, ou ate mesmo um prefeito tem pouca influencia nas relacoes exteriores do pais, numa cidade como o RJ que está as vespras de sediar uma Olimpiada que va abrigar tantos representante internacionais, e que va ser centro do mundo por 1 mes em 2016 vejo com muita preocupacao um prefeito que seja complacente e que tem em seu partido a concordancia com a destruicao do Estado de Israel.
Ademais, independentemente da influencia na politica externa que um prefeito e um vereador podem ter, o que me preocupa é a "influencia interna" que me preocupa. Prefeitos sao executores e vereadores legisladores, com isso eles podem muito bem inflenciar e bastante no crescimento da intolerancia, preconceito e indiretamente (ou talvez ate diretamente na violencia) contra um grupo etnico especifico.
Digo isso com base na historia, mas nao no merito do holocausto porque isso se torna ate obvio, mas sim no exemplo do crescente anti-judaismo que assola a Franca, a Espanha, a Russia , Venezuela, Bolivia e grande parte dos paises do Leste Europeu nesses ultimos 8 anos.
Desse modo, vejo com muita restricao a possivel vitoria do PSOL. Sou totalmente a favor do debate e do exercicio da democracia. Falando em democracia, vale lembrar que em todo Oriente Medio, com excecao do Egito que teve suas primeiras eleicoes apos a revolucao neste ano, o UNICO pais democratico é Israel, mas isso 'outro assunto.
Agradeco desde ja o espaco e a atencao.
Sem mais.
Dr. Cezar Jose Mizrahi
Um momento, só para deixar claro Dr. Cezar, sou formado em Relações Internacionais e devo discordar contigo. O partido não é "a favor da destruição de Israel". Mesmo quando o Plínio argumentou que Irã tinha o direito de ter a bomba, deve-se levar em conta que Israel é ameaçado tanto quanto ameaça a segurança e a estabilidade no Oriente Médio. Israel não é membro do Tratado de não-proliferação nuclear, pratica política de opacidade quanto a afirmar se tem ou não suas próprias bombas, e quase todos os analistas afirmam que o país judaico de fato as possui. Então nesse ponto de vista cabe afirmar de o Irã poderia ter bombas, uma vez que Israel alegadamente as tem.
ResponderExcluirOutra coisa é se é realmente prudente levar as próprias dores de Israel a tiracolo. Queimar uma bandeira pode significar muita coisa que não a "destruição de Israel". Isso vale muito a pena ser revisto no seu argumento. Lembro de quando a invasão dos americanos a vários países precederam queimação de bandeiras, a mera aparição do profeta Maomé num desenho desencadeou várias queimações de bandeira. Mas seguramente não diziam "Morte à América" ou que coadunavam com o terrorismo ou a AlQaeda, mas algo como "contra o imperialismo" ou "não queremos vocês aqui". Muito conta que a queimação tenha acontecido no Brasil, uma democracia, aspecto que você muito acertadamente preza.
Mas diferentemente do Brasil, Israel comete repetidas violações dos direitos humanos contra os Palestinos em Gaza e na Cisjordânia, ou mesmo nos bairros palestinos em Jerusalém. Esse deveria ser outro aspecto da democracia que deveria defender, como um regime que garante, mais que os outros, o Estado de Direito e direitos fundamentais da pessoa humana.