08/04/2012

Juntando duas causas impossíveis?


Vivemos dias de pessimismo climático. Há relatórios científicos muito preocupantes sobre os efeitos exponenciais do aquecimento global: liberação massiva do metano do permafrost ártico e do fundo dos oceanos. Perda da capacidade dos mesmos e das florestas tropicais de absorção de carbono. Crise econômica e ação dos negacionistas climáticos., sobretudo os republicanos norte-americanos, que impede qualquer avanço, esse ano, no segundo maior país emissor. Distância abissal existente entre a soma do conjunto de metas obrigatórias(Anexo 1 do Protocolo de Kioto) e voluntárias(NAMAS de Copenhagen e Cancún) e o mínimo que os cientistas do IPCC dizem ser necessário para limitar a concentração de gases de efeito estufa (GEE) abaixo do limite de 450ppm, com alguma chance de manter o aquecimento médio do planeta abaixo de 2 graus. Já se projetam aumentos de temperatura média do planeta entre 3 e 6 graus.

No Oriente Médio também são tempos de pessimismo. O governo de direita e extrema-direita de Benjamin Netanyahu intensifica a expansão dos assentamentos na Cisjordânia e Jerusalém Leste, afastando cada vez mais a perspectiva de criação do estado palestino. Consegue chantagear com eficácia a administração Obama, nesse ano eleitoral, com a mobilização massiva dos republicanos e de uma parte dos democratas para que Obama pare de pressionar em relação aos assentamentos (já parou...) e consinta com um ataque preventivo de Israel a instalações nucleares do Irã ou que lhe prometa que os EUA irão fazê-lo eles próprios. Enquanto isso, o povo sírio é massacrado, com apoio do Irã e do Hezbollah, e a primavera árabe guina politicamente rumo aos partidos islâmicos. Em Israel a população se deixa enganar por uma falsa sensação de segurança e por uma situação económica melhor do que a da Europa. Vivem na ilha da fantasia indiferentes ao sofrimento dos palestinos e a seu próprio isolamento na região. Todos os ingredientes de uma grande explosão estão se combinando de forma perigosa mas as avestruzes enterram suas cabeças na areia do deserto.

E se juntarmos essas duas quadraturas do círculo?

É o que estamos fazendo ao convidar para a iniciativa Rio/Clima – The Rio Climate Challenge --uma simulação do que poderia ser um acordo do Clima que atendesse os mínimos parâmetros do IPCC para manter a concentração de GEE na atmosfera em 450 ppm (já vamos a 390 ppm) os artífices de uma outra simulação: a Iniciativa de Genebra que, em 2003, negociaram um completo e detalhado tratado de paz entre Israel e palestinos.

Durante quatro anos duas equipes de especialistas do mais alto nível trabalharam secretamente sob a coordenação do ex-ministro da Justiça de Israel, Yossi Beilin, e o ex-minstro da Cultura da Autoridade Palestina , Yasser Abed Rabbo. O Acordo de Genebra que resultou dessa negociação é o mais completo e detalhado guia de estrada para a paz. Está “na prateleira” porque o atual governo de Israel não tem a menor intenção de negociar uma paz justa com os palestinos --aos quais oferece o apartheid dos bantustões-- e porque os palestinos estão divididos entre o Fatah e outros setores moderados que aceitariam uma solução desde que justa e o Hamas que até agora nega-se a um acordo de paz com Israel, como princípio, ainda que admita uma hudna(trégua) de longa duração que poderia, eventualmente, ser um primeiro passo.

Mas a experiência de Yossi e Yasser na iniciativa de Genebra é importante para nossa simulação de uma negociação sobre o Clima. Ambos foram convidados para o Rio/Clima de aceitaram participar, com entusiasmo, inclusive dos trabalhos preparatórios. Yossi e Yasser estarão em Brasília na quinta-feira 12/4 para uma audiência no Congresso e encontros de alto nível na esfera governamental. Depois seguirão para a reunião preparatória da Rio/Clima, em Recife.

O que um velho e renitente conflito tribal/nacional, com componente religioso numa região com "demasiada história para tão pouca geografia" tem de comum com essa quadratura do círculo global na qual sabemos que estramos condenando nossos netos e bisnetos à um contexto climático catastrófico mas não conseguimos encontrar a equação econômica/tecnológica e o consenso político para agir de forma significativa? Claramente vamos encontrar esse parentesco até porque Israel, Palestina e seus vizinhos: Jordânia, Síria, Líbano, Egito e outros da região estão dentre os mais ameaçados pelas consequências das mudanças climáticas: esgotamento das suas escassas águas, o desaparecimento do Mar Morto, as secas afetando o delta do Nilo e o Jordão. Do ponto de vista climático também faz todo sentido a presença de palestinos e israelenses, juntos, na busca de soluções aos problemas que os afetarão com toda certeza. Com ou sem paz, agora.

[fotos: acima Yossi Beilin, ex-ministro da Justiça de Israel. Abaixo Yasser Abbed Rabbo, ex-ministro da Cultura da Autoridade Palestina]

Nenhum comentário:

Postar um comentário