31/01/2012

Rio + 20, um documento bla-bla-tório

O documento base para a Rio + 20 é muito fraco e não auspicia grandes avanços na já limitada agenda da conferência. Ele é um produto típico do sistema ONU e me lembra aquela piada que corria pelos corredores de repartições públicas nos anos 80: “O que é um camelo? O camelo é um cavalo desenhado por uma comissão.” Pois o camelo da Rio + 20 é um animal obeso, mal ajambrado e certamente incapaz de atravessar o deserto.

A primeira vista é um amontoado de bla-bla-bla. Não se vê sequer um foco claro nos dois temas oficiais: economia verde e governança. Há toda uma parte inicial de discursório e palavrório que aprece destinada a acolher as inquietações, formulações e imputs de muitos dos 193 países que com participam do processo. A mesma coisa é dita de diversas formas, fórmulas como a “erradicação da pobreza” são repetidas ad nasueum como se repetir por si só erradicasse, há uma infinidade de platitudes e obviedades e nada é claramente assumido para permitir várias leituras. Quanto se chega nos dois grandes temas, a economia verde nunca é definida e não há nada de concreto em relação à governança o grande feito é transformar uma comissão (a ECOSOC) em conselho e acenar com a possibilidade de um upgrade do PNUMA mas em bases muito parecidas às atuais.

Questões fundamentais como uma superação do PIB como alfa e ômega de toda métrica econômica é totalmente diluído numa vaga proposta para que seja “complementado” por tantas variáveis diferentes que fica obviamente inaplicável. Não há proposta sobre a atribuição de valor econômico por serviços ambientais prestados pelos ecossistemas nem são colocadas as bases para uma economia de baixo carbono. As referência a uma mudança nos sistemas tributários é praticamente escamoteada e a economia verde é reduzida a uma série de formulas ocas, vagas, cobertas por um aceno para o assistencialismo tecnológico sem nenhuma perspectivas concreta de implementação. Tudo declaratório ou melhor dizendo bla-bla-tório. Começou mal.

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