12/07/2011

Meu afastamento


Sou, juntamente com o jornalista Fernando Gabeira, o último remanescente no PV do grupo que fundou o partido em janeiro de 1986, no Teatro Clara Nunes (ver foto), no Rio de Janeiro. Fui presidente nacional do partido, entre 1991 e 1999, e, até agora, vice-presidente nacional e presidente da comissão executiva estadual provisória do Rio de Janeiro. Decidi renunciar  a esses cargos bem como me afastar de todos os órgãos de direção do partido aos quais pertenço no âmbito municipal, estadual e nacional.
Em respeito ao mandato de deputado federal que me foi conferido por 73 mil cariocas e fluminenses, em outubro de 2010, e levando em conta restrições decorrentes da resolução 22 610, do TSE, manterei, enquanto possível, minha atuação parlamentar vinculada à bancada da qual faço parte ainda que limitando-a ao estritamente indispensável.
Minha decisão de afastamento em relação ao Partido Verde, na forma especificada, decorre da crise que culminou com a saída do partido de nossa candidata à presidência da república, a ex-senadora Marina Silva, diante do reiterado descumprimento dos compromissos com ela assumidos, quando de sua filiação, relativos à democratização e práticas de transparência dentro de nosso partido e do tratamento pouco respeitoso ao qual foi submetida por parte da direção e da burocracia partidária.
Uma breve recapitulação do que ocorreu após o extraordinário resultado no primeiro turno das eleições presidenciais nas quais nossa candidata obteve quase 20 milhões de votos de quase 20% do eleitorado votante:
1 - A comissão executiva nacional passou 5(cinco meses) sem se reunir.
2 - Na reunião ocorrida no dia 17 de março de 2010, sem nenhum aviso prévio, foi apresentado pelo deputado José Sarney Filho proposta, logo aprovada, que prorrogou por um ano os mantados daquele órgão de direção, inclusive de seu presidente, que o exerce a 12(doze) anos.
3 - Nos três meses que se seguiram àquela reunião, o não atendimento de nenhum dos pontos pleiteados pela Transição Democrática Verde, a ausência de qualquer tentativa séria de diálogo ou negociação verdadeira por parte do grupo Penna-Sarney, a parte algumas conversas evasivas e pouco sinceras, represálias e perseguições movidas contra verdes ligados à Transição Democrática Verde em alguns estados e uma campanha de hostilidades, sub-política, de baixo nível, promovida na internet em redes sociais por parte da esposa do presidente nacional que chegou a lançar um movimento pela saída de Marina Silva do PV e ilustrar posts com lápides funerárias com os nomes de Marina e outros membros da Transição Democrática.
4 – O que pedíamos? Basicamente: a) eleições entre os filiados para os Conselhos Municipais, até setembro do corrente ano, uma convenção imediata para alterar os estatutos no sentido de facilita-las. b) limitar o mandato presidencial c) realização de uma Convenção Nacional, ainda este ano d) mudanças em estados onde a direção partidária é exercida por quadros socialmente pouco representativos, cuja performance nas eleições de 2010 foi desastrosa e que mantêm laços políticos promiscuas com lideranças oligárquicas responsáveis por políticas de devastação ambiental na região amazônica. e) supressão no Estatuto mecanismos de mecanismos introduzidos sub-repticiamente que se prestam a sucessivas auto-prorrogações de mandatos assim como destituições e nomeações de comissões executivas provisórias estaduais mediante comunicação pelo presidente ou delegada nacional sem uma decisão formal pela Comissão Executiva Nacional Provisória e outras medidas que permitiram a instituição em nosso partido de um domínio autoritário por parte do presidente e de uma hierarquia informal usando métodos de intimidação e de cooptação totalmente contrários ao Manifesto do Partido Verde quando afirma:
O Partido Verde se define como um movimento de cidadãos e não de políticos profissionais ou homens de aparelho. Considera que o povo brasileiro está descontente com a chamada "classe política" e almeja um tipo de representação e ação mais eficiente, desinteressada e moderna. O povo brasileiro está cansado de uma elite fisiológica, que vê na política não uma forma de representação das aspirações dos cidadãos, mas uma carreira profissional, um caminho de enriquecimento e poder individual.
Essas e outras questões forma levantadas em vários documentos encaminhados coletivamente pelo movimento Transição Democrática e pessoalmente por mim ao presidente nacional do partido sem que o mesmo tivesse se dignado sequer a dar uma resposta oficial e circunstanciada respondendo concretamente em relação aos pontos colocados. Ele limitou-se a afirmar verbalmente que tudo aquilo era “difícil” pois não passaria “no grupo” referindo-se a um grupo de membros da executiva nacional que de forma facciosa passou a reunir-se e deliberar sobre os destinos do partido de maneira informal.
A única resposta oficial veio apenas no dia da desfiliação da ex-senadora Marina Silva na forma de um documento --incialmente divulgado no blog do deputado Sarney Filho-- diversionista e autista em sua formulação e que, em termos práticos referiu-se apenas ao recadastramento dos filiados e de um processo de atualização programática. Nenhuma palavra ou prazo sobre o direito dos filiados ao PV de escolherem seus dirigentes, sequer a nível municipal. Também ficou clara a disposição do presidente de tentar permanecer no cargo indefinidamente e continuar a usar os métodos de cooptação e clientelismo interno para tanto enquanto conseguir.
Na qualidade de fundador e dirigente histórico do PV não posso conceber tamanha cegueira e tamanho abandono de nosso ideário, tamanho desrespeito com quase 20 milhões de eleitores que votaram em nossa candidata Martina Silva para a presidência, nas eleições de outubro de 2010 e tamanho abandono dos ideais que motivaram a fundação do partido. Essa situação leva-me ao afastamento em relação a quaisquer cargos e responsabilidades de direção e da própria vida interna partidária ora dominada pelo espírito e pelas práticas que condena acima.
Ao abrir mão de quaisquer posições de poder e afastar-me de um convívio humano partidário que tornou-se francamente tóxico, advirto os dirigentes responsáveis por essa situação para que não venham a praticar atos de perseguição ou novos atropelos ao ideário ideológico e programático do partido sob pena de levar-me a outras atitudes e ações de natureza formal e legal às quais nesse momento prefiro ainda não recorrer porque não perco as esperanças que, ao fim ao cabo, de alguma forma, o Partido Verde ainda possa ser historicamente recuperado para nossa causa. Coloco para mim mesmo a data de março de 2013 como prazo limite para que isso venha a ocorrer e apelo aos que permanecem na direção do partido para que façam um exame de consciência e uma análise lúcida da realidade e revertam esse caminho de apequenamento e descaracterização.




Um comentário:

  1. Caro deputado Alfredo Sirkis: separar-se nestas circunstâncias é doloroso como sempre é quando a gente conviveu e construiu algo. É como deixar um matrimônio ou um partido comunista. Mas logo mais a gente percebe que foi a única solução sensata. Marina e seus adeptos devem urgentemente criar um novo partido. Não há opção. Estarei com ela.

    PS: Seu texto contém erros de redação. Isso não fica bem. Tem como evitar isso?

    ResponderExcluir