(...) A narrativa fragmentada deste livro, (...) consiste basicamente de meus textos e anotações entre julho de 2009 e outubro de 2010. A maior parte deles foi postada nos meus blogs nesse período. Há algumas entrevistas, anotações inéditas que fiz. Enxertei entre colchetes, num corpo menor, algumas observações atuais da visão pós-campanha, para que ficassem bem caracterizadas como tal. Não é um diário de campanha, pois não cobre todos os dias, é mais um caderno de notas. Penso que em algum momento escreverei um livro mais completo sobre essas jornadas tão marcantes, quando o tempo me permitir decantá-las apropriadamente e com distanciamento. Meu propósito aqui é fazer um relato “a quente”, de bate-pronto. Não será por certo uma história completa dessa campanha que faça justiça a todos protagonistas e descreva todos os episódios, e, nem sequer, todos os mais importantes. Em linguagem de câmara, eu diria que é apenas meu “ponto de vista”, um caleidoscópio de momentos que vivi e anotei. É o registrado em uma das muitas câmaras.
Costumo dizer que se faz história duas vezes. No turbilhão efêmero e fugaz dos acontecimentos que vivemos e/ou protagonizamos. E, depois, quando eles se transformam em história escrita, passando pelos filtros da subjetividade, mesmo a dos pesquisadores mais rigorosos e isentos. Ao colar os textos dos meus blogs e anotações, tais quais, procuro não me distanciar em demasia da primeira sem ter ainda a profundidade de campo da segunda. Nessa campanha, participei dos principais momentos decisivos e influenciei mais o discurso e a estratégia do que a organização ou a agenda e o dia a dia, pelo menos aquela posterior ao final de junho. Assisti a maior parte das grandes cenas, reuniões decisivas, debates, atos públicos e decisões que possivelmente serão lembrados na história.
(...)Essa coletânea de anotações “a quente” certamente não contempla todas as pessoas que tiveram um destacado papel na campanha nem todas as ações e meios que contribuíram para seu sucesso. Também não sei se todas as críticas que fiz nos blogs foram justas. Aconteceram no calor da contenda, e peço tanto a adversários quanto a amigos eventualmente atingidos que não levem a mal. Não quis, a posteriori, cortar ou reescrever o que foi redigido em clima de campanha. Procuro ser sempre o mais elegante possível no embate político, mas numa campanha presidencial não há como deixar de ser enfático e por vezes mordaz nas críticas referentes às ações públicas e às responsabilidades de governo ou políticas. Nesse sentido, o presidente que nos deixa e a presidente eleita recebem variadas estocadas, que penso que jamais extrapolaram a contenda eleitoral civilizada.(...)
(...) O que levou 20 milhões de pessoas a optarem por um personagem tão improvável na Presidência da República quanto Marina Silva não foi apenas sua mensagem, vinculada ao futuro do planeta, à ecologia, à sustentabilidade, à revolução na educação. Foi também um difusa, imprecisa, mas límpida, sensação de que o fazer política deveria ser diferente. E que, afinal, não é apenas a capacidade de consumir mais, comprar melhor a crédito, possuir mais bens, ostentar status, o que conta na vida. Que em algum lugar nisso tudo cabem outros valores, outros sentimentos, outros propósitos. Que em algum lugar cabe o caminho do coração. A força disso é gigantesca, e seu futuro não deve ser subestimado. Sua fragilidade também é patente, no entanto. Seu futuro, totalmente em aberto. Uma coisa é certa: vale a pena continuar prestando a atenção em Marina Silva.
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