Há várias formas de analisar um debate de TV entre candidatos a presidente. Vou dar meu pitaco, o mais isento possível, obviamente dentro de meu parti pris. Primeiro, o efeito real. A audiência variou entre 3 e 5 pontos. No final, a da Band era uma das menores. O jogo São Paulo x Inter deu 35. Influência real no eleitorado: próxima de zero.
Tivemos um grupo de pesquisa qualificado acompanhando. Dois eleitores Serra, dois Dilma, dois Marina e dois indecisos. Deu uma certa vantagem para Marina, depois Serra. Dilma, bem atrás (perdeu um dos votos para Marina) e Plínio zero. Os tucanos fizeram a deles e o resultado foi invertido, em relação aos dois primeiros, pelo que li. Na nossa Marina foi sempre bem avaliada a não ser na poesia que declamou ao final que não agradou (e eu adorei, veja como são as coisas...).
Em termos de substância, penso que Marina, Serra e Dilma ficaram num mesmo patamar. Dilma é aplicada e seu discurso foi consistente no conteúdo embora sua performance televisiva tenha sido bastante insegura e a sua imagem no vídeo continua pouco simpática. A maldade de corria no setor da platéia onde estávamos era: “Plínio, gagá, Dilma Lady Gaga”.
Serra foi bem articulado e preciso no discurso mas, a sua imagem é enfadonha. Marina começou um pouco nervosa, errou algumas palavras mas, como sempre acontece, cresceu muito depois de “esquentar”. Foi a que passou mais emoção, simpatia e autenticidade. Penso também que acabou passando o melhor conteúdo mas sou suspeito para opinar em relação a isso, pois, obviamente, é o discurso que ajudei a construir e com o qual me identifico.
O FATOR PLÍNIO
Já sabemos, conteúdo não conta tanto assim em debate televisivo que é mais panis et circensis: um espetáculo duelístico longinquamente aparentado com gladiadores e ringue de tele catch. Sabemos que uma tirada, uma frase de efeito, uma piadinha, um sorriso bem colocado podem sobrepujar as mais precisas análises e os mais exatos enunciares estatísticos. Nesse sentido --adverti a equipe, antes-- a tendência da imprensa seria de prestar mais atenção no Plínio porque evidentemente iria bater em todos e colocar-se como o homem do “rotundo-não-a-tudo-que-está-aí”, como dizia o nosso velho Brizola. Então, não é nenhuma supresa que alguns jornalistas e analistas pretendam que ele foi “a novidade” ou, até, que tenha “roubado a festa”.
Há um abismo entre os que no passado ocuparam este posto, cada qual à sua maneira, (Brizola, o próprio Lula, nos primórdios, Gabeira (em 86), etc...) e o patético burguês, grão-paulistano quatrocentão do PSOL. No plano da imagem, mais parecia o vampiro Nosferatu. Se o público infantil do debate não fosse próximo de zero diria que assustou as criancinhas. É mais do que conhecido que em debates de televisão agressividade, ironia, reclamação e mau humor pegam mal, mas para quem disputa pau a pau com o PSTU, o PCO e o PCB o minguadésimo público radicalmente de mal com a vida são atributos valiosos.
Se a nossa imprensa tivesse a seriedade de proceder a um fact checking como costuma ser feito nos debates presidenciais americanos todos os candidatos teriam eventualmente alguma falha mas, Plínio bateria todos os recordes de afirmações inverídicas, algumas francamente delirantes. Uma das recriminações que fez a Marina, por exemplo, foi o de não ter pedido demissão e de ser a favor de Belomonte.
SOCIALISMO REAL E DESASTRE ECOLÓGICO
Posições ideológicas nem sempre podem ser medidas pela objetiva checagem de fatos mas sua afirmação ao acusar Marina de eco-capitalista e, por conseqüência, pretender a aberração de que "só o socialismo pode ser verdadeiramente ecológico", levanta algumas questões que merecem ser clarificadas. Ambas vertentes do produtivismo da era industrial, o capitalismo e o socialismo, comungavam da idéia de um confronto entre o homem e a natureza e da necessidade da mesma ser submetida, sobrepujada pela sociedade industrial. Para uns, pela mão do “mercado” para outras, pela economia estatal e planificada, supostamente liberadora das “forças produtivas”.
O capitalismo, responsável pelo paradigma de insustentabilidade na qual o planeta se encontra pela sua natureza dinâmica e transformadora --que Marx era o primeiro a identificar: “tudo que é sólido desmancha no ar”-- encontrou mal que bem formas de começar a lidar com a problemática ambiental que podem ou não no futuro conduzir a modelos mais sustentáveis. Já o socialismo --entendido nos moldes de Plínio, que é o socialismo real, não a social-democracia, obviamente-- foi (e é) em termos ecológicos, uma sucessão de terríveis desastres: Chernobyl, o único e maior desastre nuclear em grande escala, o trágico desaparecimento do Mar do Aral, o inacreditável grau de poluição do ar e das águas na China e centenas de outros exemplos.
Alguns cheguei a presenciar pessoalmente como a inacreditável nuvem tóxica de Huta Katovica, na Polônia que visitei no final dos anos 70. Qual o eco-socialismo que Plínio gostaria de contrapor à regulação ambiental da economia de mercado? O da Coréia do Norte --a rigor tecnicamente o único país socialista remanescente no planeta— o de Cuba, da China (para todos efeitos países de economia mista) o de Hugo Chaves, na sua monocultura petrolífera? A tardia descoberta das questões ambientais pela extrema-esquerda valeu lhes apenas como oferta de alguns novos "temas de protesto". Nenhuma proposta minimamente factível veio, nem virá dali.
Plínio me deixou triste, pois já foi muito melhor do que este boneco amargurado, de mal com a vida e quase delirante, que surgiu no debate, para interesse de alguns jornalistas, aos quais serviu de “novidade” da noite na ótica da cobertura panis et circensis. Sua distância em relação aos pobres que pretende defender é tão grande, sua noção de povo trabalhador é tão abstrata que é incapaz de reconhecer o óbvio, aquilo que qualquer trabalhador de carne e osso lhe dirá: que sua vida melhorou. A “igualdade” que ele prega ao simplisticamente pretender a desapropriação de todas as terras que excedam mil hectares --quando, Serra notou corretamente, o governo tem um imenso estoque de terras que não consegue distribuir, muito menos tornar econômica e socialmente produtivas-- pode levar alguém a perguntar se ele também estaria disposto a dividir seu apartamento de –segundo o jornal-- um milhão de reais, com uma família sem teto.
Ao atacar a menina pobre nascida no seringal, no coração da floresta, que se alfabetizou aos 16 anos, tornou-se líder sindical e ambientalista e hoje é respeitada por chefes de estado, cientistas e doutores de todo o mundo --para ele uma “Polyanna” e uma “eco-capitalista”-- o burguês grão-paulistano está apenas disputando a pole position da biliosa disputa de impropérios, anátemas e epítetos que irá travar com seus congêneres do PSTU, do PCB e do PCO. Sua respeitável biografia merecia melhor desfecho.
A planejamento matemático do debate foi tudo, menos democrático.
ResponderExcluirOntem tb reparei a semelhança entre Plínio e o Nosferatu e as semelhanças seriam maiores se ele colocasse em pratica seu plano de governo, resumindo, Plínio criaria uma guerra civil e teriamos a população munida de tochas seguindo para o palácio do planalto enquanto o vampiro Plinio se esconde entre os gargulas do alto da torre sem entender o porque da revolta popular.
O Plínio parece não só um Nosferatus, como um marciano, com as orelhas pontiagudas e o rosto enrugado.....
ResponderExcluirNosferatu, gárgula calvo e medusa à parte. Voto no PV por convicção, mas gostaria de ver a campanha da Marina mais na linha da última campanha do Gabeira, marcando evidente posição pela ética. Se a Marina se afastou do PT por discordar de orientações políticas, quero crer que a ética teve peso nessa decisão. O que faz falta na classe política é postura ética! Daí o baixo índice de audiência. Ninguém acredita que algo realmente mudará. É uma geléia geral de "farinha pouca; meu pirão primeiro". A Marina TEM QUE SE DECLARAR E PROVAR COM ATITUDES JÁ TOMADAS NO PASSADO, QUE FEZ DA ÉTICA UMA BÚSSOLA NA SUA VIDA. Acho que esse é o diferencial que a classe média e a juventude espera.
ResponderExcluirFrederico dos Santos