12/08/2010

A governabilidade de Marina

A estratégia de governabilidade de Marina não está expressa, nem representada, com precisão naquela sua citação de "governar com os melhores do PT, PSDB, PMDB e DEM em um governo de coligação nacional", nem na caracterização de que Marina busca "a república dos homens de bem". Limitá-la a isso seria de um simplismo e uma ingenuidade, que nossa jaguatirica não possui.

Pode ser que Marina durante a entrevista na Globo tenha insistido no aspecto de existirem homens de bem em todos partidos mas, o central da sua análise é aquilo que nós verdes denominamos o "realinhamento histórico da social-democracia brasileira" e que não se limita ao partido que ostenta esse nome, o dos tucanos. Estende-se ao PT, que sempre reagiu à essa classificação.

O ex-presidente Fernando Henrique formulou a melhor síntese do "desalinhamento" social democrata no Brasil: "O PSDB e o PT disputam para ver quem vai liderar o atraso". A governabilidade de ambos é dada pelas respectivas alianças: com o ex-PFL, hoje DEM, no caso dos tucanos e com o PMDB e, anteriormente, com uma pletora de partidos fisiológicos, via mensalão, no caso do PT.

A governabilidade de Marina será mais coerente. Queremos governar primordialmente os dois partidos social-democratas, o PT, mais ao estilo do grande partido de origem sindicalista --SPD alemão, Labour Party inglês ou SD sueco-- e o PSDB sociologicamente mais classe média, como os PS francês e português.

No fundo, há mais elementos programáticos em comum entre eles do que elementos dissonantes. Mas, há essa feroz disputa de poder e sua subjacente animosidade que tem com epicentro o jogo bruto da política paulista.

Embora, ambos contaminados pelos fisiologismo --o PV tão pouco chega a ser imune a isso-- esses dois partidos ainda são diferentes de um PMDB, ou um DEM, cujo objetivo primordial é sempre participar de algum naco de poder, de alguma forma, como sócios menores, seja qual for o governo, mas sempre mantendo seu jus mamandi nas tetas do estado. PT e PSDB são partidos que, como o PV, ainda mantêm objetivos programáticos e possuem um componente importante de quadros que se movem por eles.

Por isso, não é descabido pensar que a melhor dentre as possíveis bases parlamentares --não há como prescindir de uma maioria no Congresso-- seria juntá-los ao PV num eventual governo Marina, somando a esse bloco adesões individuais complementares e alguns pequenos partidos de esquerda.

Tucanos e petistas jamais se juntariam num governo presidido por uns ou outros. É Marina, que nutre boas relações com âmbos, a presidente que poderia operar esse difícil porém indispensável "realinhamento" na política brasileira. Mas, será que eles topam? Já ouço mentalmente a sua pergunta. Acredito que, na hipótese da vitória de Marina, topariam, sim. Isso inclusive lhes faria um imenso bem permitindo em ambos os partidos a emergência daquilo que têm de melhor.

Quanto "às pessoas de bem" dos partidos que criticamos, como o PMDB e o DEM, elas de fato existem e poderiam complementar esta eventual maioria parlamentar embora não lastreá-la primordialmente. Podemos mencionar alguns políticos com os quais pelo menos discutiríamos uma participação na governabilidade: Pedro Simon, mencionado por Marina, Jarbas Vasconcelos e, para citar alguém do DEM, o Indio da Costa.

Mas, a base do bloco seria a social-democrata liderada por alguém capaz de imprimir uma direção, que vá além das limitações da social-democracia (brasileira ou não): o caminho da economia verde, dos programas sociais de terceira geração, da sustentabilidade, da revolução na educação e da reforma política, baseada nas boas práticas republicanas com o fim do aparelhamento fisiológico-assistencialista do estado brasileiro.

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